sexta-feira, 3 de maio de 2019

Entre semáforos e gigantes



Aquele dia não seria igual aos anteriores. O ano era 2006 e estava vivendo uma jornada dupla: durante o dia trabalhava numa multinacional no ramo de telecomunicações e à noite, cursava faculdade de Educação Física. A semana já estava chegando ao fim e, naquele dia, sairia mais cedo para retirar o resultado de um exame de eletroneuromiografia na cidade de Santo André, que ficava entre São Paulo (Capital), onde trabalhava e Ribeirão Pires, cidade onde residia e estudava. Meus planos eram claros: vou correndo no laboratório, pego o exame, corro para casa e assim terei tempo de jantar, antes de ir para a faculdade.
Vida dura essa de universitário. Sobretudo, nas minhas condições: roupa social era exigido na empresa e na faculdade, roupas sports. “Nem pensar em aparecer aqui com roupas de ir à missa, hein!”, esbravejava um professor rígido que tínhamos. Eu tinha que escolher das duas uma: ou jantava ou trocava “as roupas de ir à missa”. As duas coisas eram impossível de realizar, pois o tempo era muito curto: saía do trabalho na Barra Funda (São Paulo – SP às 17h e às 19h tinha que estar na Faculdade, em Ribeirão Pires – SP). 
Mas naquele dia, seria mais fácil. Havia saído do trabalho às 14h. Nos meus planos, quando o trem chegasse na Estação Prefeito Celso Daniel – Santo André, já estaria na porta e seria o primeiro a descer da composição rumo ao laboratório e sobraria tempo para retornar para minha cidade, tomar banho, trocar de roupas e jantar em paz. E foi o que fiz. Quando as portas se abriram na Estação de Santo André, saí literalmente correndo e, ao sair da Estação, deparei-me com um fluxo gigante de carros atravessando a rua Itambé, impedindo que eu continuasse na minha empreitada.
Olhava para aquele semáforo e nada do “homenzinho vermelho” ficar verde. Os carros continuavam a seguir o fluxo e nada do trânsito diminuir. Angustiado, olho para o relógio e vejo alguns preciosos minutos escapar-me pelos dedos, sem eu nada poder fazer. Começo a ouvir o barulho das catracas. Aquelas pessoas retardatárias que vinham na mesma composição que eu e que desceram ali, já começavam a sair da estação de trem. Dou mais uma olhada no relógio e um sentimento de frustração vem. A sinaleira não abria e aquelas pessoas, que em alguns minutos antes, eu me orgulhara de sair do trem na frente delas, agora estavam todas do meu lado.
Não demorou muito e agora eu começo observar que as outras pessoas também começavam a ficar angustiadas. Não era somente eu que tinha pressa em meus afazeres e compromissos. Outras pessoas também. Alguns segundos passam e a aglomeração de pessoas só aumentava – na proporção dos carros que transitavam naquela rua.
De repente, algo me vem à tona: eu não havia apertado o botãozinho atrás dos “homenzinhos verde e vermelho”. Por algum motivo (talvez a pressa!) eu havia esquecido de algo tão elementar para eu ter sucesso no meu propósito de chegar em casa mais cedo. O curioso era que, das outras pessoas que aglomeravam juntamente comigo naquela travessia, nenhuma outra tiveram a mesma ideia. Ou, supuseram que eu, o primeiro a chegar, já havia feito isso.
Meio que disfarçando, aperto o tal botãozinho. Alguns segundos depois, finalmente o homenzinho fica verde. Todos, inclusive eu, fazem aquela travessia às pressas, cada um ao seu destino, pois em cidade grande, tempo é precioso, tempo é dinheiro.
Atravessei aquela rua e fui até o laboratório meditando o que acabara de ocorrer. Perdi alguns preciosos minutos – o que provavelmente me faria falta – pois teria outras conduções até chegar à minha casa.
Lembrei dos versos de Gerado Vandré, quando cantava “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Muitos se atrasaram, por causa de minha distração – não proposital – mas também não tiveram a proatividade de entender o que estava acontecendo e resolver o problema que afligia todos.
Nessa seara de fazer acontecer, proatividade ou simplesmente passividade, me pego lembrando de Davi e a sua memorável vitória sobre o gigante Golias. Todos nós já ouvimos falar desse episódio, mas o que trago à tona era o fato da inércia das pessoas, frente ao que estava acontecendo:

"Chegava-se, pois, o filisteu pela manhã e à tarde; e apresentou-se por quarenta dias". (1ª Samuel 17:16)



Quarenta dias. Esse foi o total de dias que o gigante se apresentava diante de todos os homens, mulheres e crianças de Israel, sem que ninguém tomasse uma atitude. Um esperava pelo outro. Imagino, todos os dias, as pessoas comentando entre si, quem os livraria daquela situação delicada.
Não bastasse o medo daquela figura maléfica, havia os “especialistas em gigantes” que entendiam de tudo sobre ele: a sua altura de seis côvados e um palmo (1ª Samuel 17:4), o que equivaleria, com as medidas atuais, quase três metros de altura! Mas não parava por aí: o versículo seguinte diz que ele vestia uma couraça de escamas, uma espécie de armadura, que pesava cinco mil siclos de bronze (algo em torno de sessenta quilos). Caneleiras, ombreiras, escudos e uma lança que pesava mais ou menos sete quilos, completava os adornos desse guerreiro amedrontador, o que dava muito assunto para as “mesas redondas” da cidade.
Mas eis que surge o herói Davi. Um garoto, caçula de sua família que foi ao front de guerra, a pedido de seu pai Jessé, para levar mantimentos aos seus irmãos. Ele estava de fora. Mal sabia o que estava acontecendo. Semelhante a um curioso que vê de longe a disputa de dois competidores num jogo de xadrez, ele já identificara como vencer o inimigo. As suas experiências anteriores já traçara o que ele faria – ele já havia matado um urso e um leão – no entanto, ele tinha plena convicção que se não fora intervenção do Senhor, ele não teria sucesso nesse novo desafio.
O seu sucesso não estaria voltado às suas estratégias de ataque ou mesmo de defesa. Ele mal sabia os atributos daquele gigante. No entanto, ele sabia que, dentre todas as estratégias de luta, a mais eficiente seria – certamente – aos pés do Senhor.
Davi tinha motivos para não comprar aquela briga. Afinal, ele não foi alistado para a guerra. Seus pais contavam com ele para apascentar o rebanho e ovelhas e não para lutar com gigantes. Mas entre viver no ostracismo de sua zona de conforto, ele optou em comprar aquela briga – o que outros, em sua mediocridade – não tiveram coragem de encarar.
O problema não é meu! - exclamaria um covarde diante daquele impasse. Realmente o problema não era de Davi, mas os impropérios que aquele gigante proferia contra o nosso Deus não poderia passar impune.
E, voltando-se ao versículo citado anteriormente, quarenta dias o gigante subia e esbravejava contra o povo de Deus. E ninguém fez nada. Nem mesmo a oferta da princesa pra o valente que derrubasse aquele guerreiro, modificou a situação.
Um esperando pelo outro. E nada do “homenzinho ficar verde”. Assim como todos os pedestres naquela ocasião sabiam que, era apenas apertar o botão e esperar a situação mudar, todos também sabiam que Golias não era nada perto do Deus de eles serviam.
Mas optaram por ficar inertes. Precisou um corajoso jovem camponês invocar a presença do Deus Todo Poderoso para aquela mudar.
Golias caiu. Acabou-se os impropérios. O sinal ficou verde. Avançamos. O que era desfavorável tornou-se favorável. Mas o tempo perdido, infelizmente não volta jamais.

terça-feira, 30 de abril de 2019

A Síndrome da Igreja Vazia



Há alguns anos atrás, tive o privilégio de pregar na abertura de uma Convenção Interestadual, numa importante cidade da região norte do Brasil. Para não expor os irmãos queridos que conheci ali, não vou detalhar o nome da denominação, a data e a cidade onde tudo aconteceu. Até a imagem que ilustra esse artigo não é verdadeira.
Era uma Igreja relativamente grande: nas minhas contas caberia de quatrocentas a quinhentas pessoas sentadas. Visivelmente estava precisando de reformas e, reforma para um templo desse porte não fica barato.
Perguntei aos irmãos que ali congregavam quantas pessoas frequentavam o culto. A Igreja estava repleta de pessoas, vindas de diversas partes do país. 
- Quarenta pessoas, pastor. (respondeu um irmão com um ar de nostalgia).
- Quarenta pessoas, irmão?
Daí ele começou a rememorar os tempos áureos daquela comunidade, das bandas, dos pastores e obreiros que ali passaram.
- Mas, e o que aconteceu para agora só ter quarenta pessoas congregando aqui?
Daí, ele mudou de semblante. Com um ar de revolta, disse que o G12 havia "acabado" não só com aquela igreja, mas com as demais congregações e até de outras denominações.
Comecei a ponderar com o que havia acabado de ouvir. Como pode uma Igreja estabelecida, simplesmente ter uma debandada de ovelhas para outro lugar e, pelo que percebi, nunca mais sequer retornar?
Oração não era problema para aquela congregação. Fé, também não.
Com o passar dos tempos, percebi que, em muitas igrejas falta algo chamado organização e planejamento. Não vou entrar no mérito do G12 e nem de outros métodos que pululam nas igrejas evangélicas do Brasil afora, mas se faz necessário, para os ministérios que estão nessa situação crítica, repensar os seus valores, senão quiserem ver as suas igrejas à míngua.
Há ministérios com algumas décadas na estrada, que ainda não percebeu que a sociedade está em transformação constante e a igreja, como faz parte da mesma, também está em transformação. 
Alguns lerão esse artigo e dirão: mas Jesus não muda, o homem é quem muda!
Já ouvi isso de uma centena de pastores. Sim, "Jesus Cristo é o mesmo, ontem hoje e eternamente" (Hebreus 13:8), mas não é disso que eu me refiro. 
As igrejas mudam e o que deu certo no passado, pode não dar certo no presente. Li de um pastor muito antigo que, se a denominação dele, quando começou no Brasil, não tivesse demonizado a TV, e adquirido uma rede de TV, muito mais pessoas seriam alcançadas pelo Evangelho até o dia de hoje.
No entanto, por não assimilarem o momento em que viviam, demonizaram o rádio, a TV, o relógio de pulso e, agora, quando veem suas ovelhas buscarem alimentos em outros pastos, culpam o método, criticam-o.
Não é o objetivo desse texto exaltar o G12 ou qualquer outro método de evangelização que passar na cabeça do leitor. Meu objetivo é alertar os líderes que é seu dever cuidar das ovelhas que Deus lhe concedeu e que, as demandas da geração atual, bem como das posteriores serão diferentes.
Invista em seu ministério. Cuide das crianças; mas não se esqueça dos velhinhos! Faça trabalhos sociais. EVANGELIZE! Estude mais. Ore mais. Peça a Deus novas estratégias, pois quando Ele, naquele dia, for perguntar pelas almas que Ele te deu para apascentar, não venha a responder que a culpa é dos outros. De Deus não escondemos nada, nem mesmo a nossa mediocridade.